Depois de aproximadamente 7 meses sem escrever “para fora”, resolvi hoje escrever um pouquinho. Sem promessas demais, porém com alguma pretensão. A humilde pretensão de consolar a mim mesma e trazer liberdade às falas que não saem pela boca. Esta semana especial, semana de Páscoa, também é semana de aniversário. São 8 anos que eu me encontrei verdadeiramente com Jesus, à beira do caminho. E detalhe, eu O reconheci. Antes caminhávamos, mas eu disfarçava, olhava mais para as paisagens, belas mas passageiras. Mas em uma Páscoa, em 2005, Ele por Sua graça se cansou de ser “rejeitado”. Arrancou uma flor e me entregou, como faz um amante timidamente corajoso. Eu me impactei e até hoje me pergunto: como um gesto tão simples pode causar tanto dano? Causou arrependimento e ausência. O arrependimento se transformou em vida, e a ausência em dependência, porque agora me sinto só, mas não quero andar só, o que me resta então? Companhia eterna para caminhar. De lá pra cá, aconteceram tantas coisas. Mudanças físicas, de circunstâncias, de estações. Algumas foram doloridas, e consoladas. Outras festejadas e planejadas. Mas as mudanças foram feitas de dentro. Parece clichê, mas é exatamente isso. Um grande clichê de que quando nos abrimos para o Amor, Ele se achega. E achegado a nós Ele pinta novos sorrisos e novas caretas na alma.
Este fim de semana, procurei uma exposição de arte, um museu, algo para
ver. Não encontrei. Queria ver arte parada, mas que em mim gerasse movimento.
Fui à praia, pegar final de tarde. Fui com um amigo muito amoroso, sentamos
numa pedra e olhando para a luz do sol, quase nublado, refletido na água,
pensei: que mundo deve haver aqui em baixo, embaixo de tanto mar de água? E meu
amigo disse: você sabia que de todas as paisagens naturais, o mar é o menos
explorado e descoberto? Daí pensei mais ainda, por alguns minutos, pensei um
milhão de coisas. Veio aquela respiração
de impotência, misturada com curiosidade e assombro. O Mar sempre me encontrou.
Ele me gera medo e calor. Me abraça, me mostra como sou pequenininha. Me faz
ter coragem, me dá paz, me acalma e limpa meus pensamentos, me dá prazer. O Mar
é mistério, é atraente, chama sempre alguém para ficar ao Seu lado. E quando
passo tempo sem vê-lO, Ele resolve criar algum motivo para nós nos
reencontrarmos. Um dia queria ser
marinheira e aproveitar mais do mar, pescar e dividir a sensação de estar,
pertencer, sem agredir o outro.
Enquanto não possuo meu próprio barquinho, de
madeira e vela, vou velejando na base do pensamento e do coração. Sabendo que
não velejo sozinha, tenho companhia e bússola. Não ando perdida. Eu no meu
pequeno conhecimento marítimo, tem horas penso em desistir, mas até nisso o Grande
Mar me alivia. Não tenho forças perto dEle. Aquele que eu encontrei numa Páscoa
e que vive me encontrando todos os dias, tem a mão mais firme. Ele sabe a hora
de abrir as velas e aproveitar o vento sudeste. Ele sabe a hora de parar e cair
na água. Água que refresca e alivia, lava as mãos e purifica de toda injustiça.
Água que vira vinho e dá a transformação nossa de cada dia. Água que cheira
peixe, o qual sustenta, que alimenta e dá força. Ele sabe as rotas, as luas, e
os movimentos dos mares. Ele sabe aonde ancorar e quanto tempo, e quem vai
seguir fazendo parte da tripulação. Uns ficam nos portos, esperando os
reencontros, exercitando a arte de acolher a saudade no peito. Enfim, a jornada
é longa, sua intensidade é eterna. O corpo é finito, mas o espírito velejará
para sempre, em um Mar sem fim. A coisa que quero para hoje, é que eu possa conhecer
e me alegrar quando entrar nesse mar. Não estar entediada como aquele que
trabalha no mar, mas ser livre, esperançosa e grata por ter esta infinidade de
descobertas. Não somente em mim, mas Nele que em tudo esconde muito mais, como
o mar.
Priscila Souza