segunda-feira, 25 de março de 2013

Páscoa em Alto Mar



Depois de aproximadamente 7 meses sem escrever “para fora”, resolvi hoje escrever um pouquinho. Sem promessas demais, porém com alguma pretensão. A humilde pretensão de consolar a mim mesma e trazer liberdade às falas que não saem pela boca. Esta semana especial, semana de Páscoa, também é semana de aniversário. São 8 anos que eu me encontrei verdadeiramente com Jesus, à beira do caminho. E detalhe, eu O reconheci. Antes caminhávamos, mas eu disfarçava, olhava mais para as paisagens, belas mas passageiras. Mas em uma Páscoa, em 2005, Ele por Sua graça se cansou de ser “rejeitado”. Arrancou uma flor e me entregou, como faz um amante timidamente corajoso. Eu me impactei e até hoje me pergunto: como um gesto tão simples pode causar tanto dano? Causou arrependimento e ausência. O arrependimento se transformou em vida, e a ausência em dependência, porque agora me sinto só, mas não quero andar só, o que me resta então? Companhia eterna para caminhar. De lá pra cá, aconteceram tantas coisas. Mudanças físicas, de circunstâncias, de estações. Algumas foram doloridas, e consoladas. Outras festejadas e planejadas. Mas as mudanças foram feitas de dentro. Parece clichê, mas é exatamente isso. Um grande clichê de que quando nos abrimos para o Amor, Ele se achega. E achegado a nós Ele pinta novos sorrisos e novas caretas na alma. 

Este fim de semana, procurei uma exposição de arte, um museu, algo para ver. Não encontrei. Queria ver arte parada, mas que em mim gerasse movimento. Fui à praia, pegar final de tarde. Fui com um amigo muito amoroso, sentamos numa pedra e olhando para a luz do sol, quase nublado, refletido na água, pensei: que mundo deve haver aqui em baixo, embaixo de tanto mar de água? E meu amigo disse: você sabia que de todas as paisagens naturais, o mar é o menos explorado e descoberto? Daí pensei mais ainda, por alguns minutos, pensei um milhão de coisas. Veio aquela respiração de impotência, misturada com curiosidade e assombro. O Mar sempre me encontrou. Ele me gera medo e calor. Me abraça, me mostra como sou pequenininha. Me faz ter coragem, me dá paz, me acalma e limpa meus pensamentos, me dá prazer. O Mar é mistério, é atraente, chama sempre alguém para ficar ao Seu lado. E quando passo tempo sem vê-lO, Ele resolve criar algum motivo para nós nos reencontrarmos. Um  dia queria ser marinheira e aproveitar mais do mar, pescar e dividir a sensação de estar, pertencer, sem agredir o outro. 

Enquanto não possuo meu próprio barquinho, de madeira e vela, vou velejando na base do pensamento e do coração. Sabendo que não velejo sozinha, tenho companhia e bússola. Não ando perdida. Eu no meu pequeno conhecimento marítimo, tem horas penso em desistir, mas até nisso o Grande Mar me alivia. Não tenho forças perto dEle. Aquele que eu encontrei numa Páscoa e que vive me encontrando todos os dias, tem a mão mais firme. Ele sabe a hora de abrir as velas e aproveitar o vento sudeste. Ele sabe a hora de parar e cair na água. Água que refresca e alivia, lava as mãos e purifica de toda injustiça. Água que vira vinho e dá a transformação nossa de cada dia. Água que cheira peixe, o qual sustenta, que alimenta e dá força. Ele sabe as rotas, as luas, e os movimentos dos mares. Ele sabe aonde ancorar e quanto tempo, e quem vai seguir fazendo parte da tripulação. Uns ficam nos portos, esperando os reencontros, exercitando a arte de acolher a saudade no peito. Enfim, a jornada é longa, sua intensidade é eterna. O corpo é finito, mas o espírito velejará para sempre, em um Mar sem fim. A coisa que quero para hoje, é que eu possa conhecer e me alegrar quando entrar nesse mar. Não estar entediada como aquele que trabalha no mar, mas ser livre, esperançosa e grata por ter esta infinidade de descobertas. Não somente em mim, mas Nele que em tudo esconde muito mais, como o mar.
                                                                                                                       Priscila Souza